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Nona Sinfonia

Máscara mortuária de Ludwig Van Beethoven

Máscara mortuária de Ludwig Van Beethoven

Como posso dizer ainda ao mundo,
Se todas as vozes em meus ouvidos
Calaram-se há muito?
Das notas melodiosas que toco,
Essas que cantam as canções de anjos,
Dos lumiares, de estrelas sem fim?
Como posso dizer das imensas grandezas
Que viajam em minha alma,
De todas as melodias que a invadem,
Que assim me tomam por completo?
Como posso, se meus ouvidos se emudeceram?
Como posso continuar a produzir,
Trazer a divindade que me invade,
Se como a cegueira, algo me tomou,
E meus todos caminhos são incertezas?
Como posso prosseguir se me amputaram as pernas,
Não essas que caminham deveras,
Mas a do dom celestial que a mim foi designado?
Como posso? Como posso prosseguir?
Tenho vivido entre os homens
E, de todo, os desconheço.
Tenho me negado, me encontro em abandono,
Porém persevero por todos.
Um dia seremos irmãos.
Ah! Um dia seremos.
Recusaremos todas as potestades
E seremos senão nossa imensa divindade.
Assim nos reconheceremos
Apenas
Filhos de Deus.

S. Quimas

 
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Publicado por em janeiro 1, 2017 em Poesia

 

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Eu não penso

Mendigo, sem-teto.

Eu não penso,
Mas logo visto.
Visto em mim as vestes do contrassenso da humanidade,
Despido de certezas e das verdades,
Essas tão caras a todos
Que amam o absoluto de sua hipocrisia.
Não sou poeta?
Se o fosse poesia faria.
Faço a exaltação em palavras
Do arremedo de meus sonhos
E escarno em versos as minhas imensas feridas.
Perdoem-me aqueles que esperavam de mim
Algo que não a pequenez de tudo isto.
Não sou profeta, não sou Deus,
Nem sequer religioso sou,
Quanto mais divino.
Sou quimera, caixa de Pandora,
Vim destruir a comodidade,
Não por ser absolutamente a Verdade,
Essa falácia conceitual.

Gritam-me que sou niilista,
Não sou.
Niilista é quem se condena a seus conceitos pétreos
E não é capaz de arquivá-los nas nuvens
De sua transformação.
Quem não percebe o momento
E o caleidoscópio que é a vida.
Sou contemporâneo de minhas paixões
E ancião de meus desejos.
Tudo se esvai como tudo se esvai,
Assim como a água que se escoa em um rio.
Haverá o rio de abraçar o mar?
Quem sabe? Muito rio simplesmente seca.

Não há pessimismo em mim.
Não vejo sentido em sê-lo
E nem em ser de todo modo otimista.
Há, sim, uma gravidade em compreender
Que a vida é apenas o que é
E exatamente… Mais nada!
Mesmo que ruminemos sonhos e regurgitemos esperanças,
A vida segue como ela é.
Simplesmente porque é a vida que vivemos,
Seja bela ou uma triste carranca
É a que temos.
Quem poderá sorrir
As lágrimas que jamais sentiu
Escorrerem por sua face?
Não há lembrança e risos
Daquilo que jamais se viveu.

Cheguei à conclusão
Que de certa forma somos insanos
E somos melhores quanto o mais somos.
Gente dita normal
É um engano na criação,
Só perturba o êxtase de quem
Goza em profundidade com as estrelas.

Caminho farto de tudo isso
E o mundo para mim
Não passa de uma coleção absurda de equívocos,
Um triturar de solidões regadas de abraços
Sem a profundidade do desejo e do sentimento.
O mundo é uma coberta esfarrapada,
Um andrajo fedorento de boa estampa,
Que mal cobre e aquece
O mendicante deitado
Na sarjeta de suas crenças.

S. Quimas

 
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Publicado por em abril 12, 2016 em Poesia

 

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Do que adianta sonhar

Prometeu Acorrentado

Prometeu Acorrentado – Autor Desconhecido

 

Do que adianta sonhar,
Se quando desperto, a vida é mero pesadelo,
Miragem e delírio, uma ilusão atroz de mim mesmo?
Do que adianta ver,
Se a cegueira que enevoa minha visão,
Não passa do descaminho dos meus limites
E de toda curteza do meu entendimento?
Do que adianta ouvir,
Se tudo o que ouço é o grito infernal
E repetitivo de minhas súplicas,
Voz de meu desespero?
Do que adianta falar,
Se o vento de todas as tempestades de minha vida
Faz surdo tudo a minha volta?
Do que adianta?
Do que adianta se entregar,
Assim tão por completo,
Quando se entregar é atirar-se num abismo
E impensadamente, arremetê-lo sem asas?
Do que adianta ser,
Quando tudo se nega em sê-lo em si mesmo
E, de modo aviltante,
Só pesa, fere, corrói, consome e deturpa?
Do que adianta a vida,
Se a vida desfalece e murcha repentina,
Feito a flor precoce que morre aos primeiros raios de sol?
Não que a vida seja em si mesma o mal,
Não que os desprazeres sejam sua condição.
Contudo, pesa…
Do que adiantam, as muitas promessas e planos,
Se tudo isso se esvai num tropeço
E se escoa como a água que se derrama,
Assim rompida a taça?
Do que adianta?
Do que adianta amar
E digo amar de modo profundo,
Se amor é um caleidoscópio a sempre girar?
E toda a imagem de antes se transforma
E o que se tinha e o que se tem
É a toda inconstância de tudo o que se vive?
Do que adianta tudo:
O universo inteiro, Deus, o mundo,
Sem ti?
Do que adianta?

S. Quimas

 
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Publicado por em março 27, 2016 em Poesia

 

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