Eu não penso,
Mas logo visto.
Visto em mim as vestes do contrassenso da humanidade,
Despido de certezas e das verdades,
Essas tão caras a todos
Que amam o absoluto de sua hipocrisia.
Não sou poeta?
Se o fosse poesia faria.
Faço a exaltação em palavras
Do arremedo de meus sonhos
E escarno em versos as minhas imensas feridas.
Perdoem-me aqueles que esperavam de mim
Algo que não a pequenez de tudo isto.
Não sou profeta, não sou Deus,
Nem sequer religioso sou,
Quanto mais divino.
Sou quimera, caixa de Pandora,
Vim destruir a comodidade,
Não por ser absolutamente a Verdade,
Essa falácia conceitual.
Gritam-me que sou niilista,
Não sou.
Niilista é quem se condena a seus conceitos pétreos
E não é capaz de arquivá-los nas nuvens
De sua transformação.
Quem não percebe o momento
E o caleidoscópio que é a vida.
Sou contemporâneo de minhas paixões
E ancião de meus desejos.
Tudo se esvai como tudo se esvai,
Assim como a água que se escoa em um rio.
Haverá o rio de abraçar o mar?
Quem sabe? Muito rio simplesmente seca.
Não há pessimismo em mim.
Não vejo sentido em sê-lo
E nem em ser de todo modo otimista.
Há, sim, uma gravidade em compreender
Que a vida é apenas o que é
E exatamente… Mais nada!
Mesmo que ruminemos sonhos e regurgitemos esperanças,
A vida segue como ela é.
Simplesmente porque é a vida que vivemos,
Seja bela ou uma triste carranca
É a que temos.
Quem poderá sorrir
As lágrimas que jamais sentiu
Escorrerem por sua face?
Não há lembrança e risos
Daquilo que jamais se viveu.
Cheguei à conclusão
Que de certa forma somos insanos
E somos melhores quanto o mais somos.
Gente dita normal
É um engano na criação,
Só perturba o êxtase de quem
Goza em profundidade com as estrelas.
Caminho farto de tudo isso
E o mundo para mim
Não passa de uma coleção absurda de equívocos,
Um triturar de solidões regadas de abraços
Sem a profundidade do desejo e do sentimento.
O mundo é uma coberta esfarrapada,
Um andrajo fedorento de boa estampa,
Que mal cobre e aquece
O mendicante deitado
Na sarjeta de suas crenças.
S. Quimas