Ali, longe no caminho
De minhas todas e imensas recordações,
Reencontrei com o menino que fui
E ele sorriu para mim,
Com aquele jeito impertinente
De menino matreiro,
Que a tudo conquista
E faz se render até a mais profunda tristeza.
Depois o menino que fui
Deu-me um abraço,
Aquele carregado de sentimento,
Que só a pureza de uma criança sabe dar.
Eu, agachado, tomou a minha face entre as suas mãos
E olhou fundo em meus olhos
E me beijou. E foi-se.
Nada me disse,
Sequer olhou para trás e foi se indo.
E seguiu caminhando pela estrada
Repleta de imensas promessas,
Ladeada por canteiros de belas esperanças.
Caminhava rápido, resoluto,
Fincando o pé em suas certezas
E em todos os seus acalentados desejos.
De súbito, o menino para
E vejo que chora. Não entendi o motivo,
A estrada era linda,
O sol brilhava
E as nuvens no céu
Imitavam os carneirinhos
De sua imensa imaginação.
Por que será o pranto?
Vi, mesmo ao longe,
Um papel qualquer em sua mão,
Não percebi que o recolhera do chão.
De repente, o menino, resoluto,
Esfregou a manga de sua camisa
Contra o rosto e recolheu
Todas as suas lágrimas e partiu
Em passos ainda mais apressados.
De lá longe,
O vento soprou
E com ele carregou o papel,
Atirado ao chão novamente
Pelo menino que fui.
Pousou, assim, lentamente,
Como a paina que se desprega da árvore,
Junto a mim.
Curvei-me e tomei em minhas mãos o dito papel.
Nele escrito em letras pequeninas:
“Menino, sei de tuas andanças e sonhos,
Sei de tuas esperanças, de teus maiores desejos,
Sei da calma da vida e da ilusão do tempo,
Que quando menino parece se alongar.
Sei de muita coisa,
Se é que o que sei valha algo maior
Do que tudo imensamente
Que tu és em sua imensa simplicidade.
Sei de tuas pipas,
Do teu sonho imenso de voar.
Se pudesse dar-te-ia asas.
(Quisera ser Deus
Para fazer-te eternamente anjo).
Sei de muito
E o que sei parece nada
Perto da tua fome de saber.
Não encontrei a resposta
Ao mundo e nem aquela
Que resolva a mim mesmo.
Por isso, recaminho em mim a estrada,
Só para te reencontrar,
Ainda que seja apenas sonho
E de todo imensa imaginação,
Mas queria aquele teu abraço,
Aquele teu beijo,
Queria sentir
Ao menos alguns momentos
A mim mesmo”.
E o menino se foi….
S. Quimas